- junho 25, 2024
Sofrimento e desolação marcam árduo caminho até a chegada nos focos de incêndio no Pantanal
![Sofrimento e desolação marcam árduo caminho até a chegada nos focos de incêndio no Pantanal](https://www.pantanalnews.com.br/wp-content/uploads/2024/06/ra_fogo_henrique_arakaki.jpg)
Os movimentos lentos na terra e o olhar cansado da pequena rã era de quem já estava entregue à própria sorte e não poderia contar nem com a Mãe Natureza, que parecia já ter deixado aquele local no Pantanal há tempos.
O cenário de desolação encontrado pela reportagem do Jornal Midiamax em Corumbá, no Pantanal sul-mato-grossense, sequer tinha sido tocado pelo fogo, mas já sentia as fortes consequências de um foco de incêndio próximo dali.
No caminho percorrido pelo Corpo de Bombeiros e equipes de reportagem, a aflição dos animais encontrados anunciava que o que muitos chamariam de inferno, se aproximava. Conforme a tenente-coronel do CBMMS, Tatiane de Oliveira, a temperatura ali no entorno ultrapassava os 60°C.
O calor era tão intenso próximo de um grande foco de incêndio que a sola do sapato de um dos cinegrafistas no local derreteu. Se a borracha não resistiu, imaginem o que sentiu a rã ou a centena de outros animais que ali mesmo pereceram.
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Estrada do suplício
O trabalho árduo aconteceu em um local às margens Rio Paraguai, bem próximo da área urbana da Cidade Branca. Ainda de Corumbá já era possível ver a cortina de fumaça e o que aguardava os combatentes.
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Primeiro de barco, para atravessar o rio, e depois de carro, por uma estrada tomada pela fumaça densa e fuligem. É neste trecho que um dos militares parou para ajudar a rã, oferecendo um pouco de água. Um gesto simples, mas importante para a biodiversidade do Pantanal.
Naturalmente aquele anfíbio pularia para qualquer lugar tentando fugir da interferência humana. Porém, como bem disse Saint-Exupéry no livro ‘O Pequeno Príncipe’, só se vê bem o coração. E de coração para coração, de imediato, a rã pulou para as mãos do militar do Corpo de Bombeiros.
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Se um dia, aquela atitude representou perigo para o animal. Naquela tarde quente, foi a sua salvação. Mais à frente na ‘caminho do suplício’, em meio aos estalos do fogo queimando a vegetação seca, era uma iguana que tentava sobreviver, correndo desesperada em busca de um refúgio.
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Em outro ponto da estrada, mais adiante, dois pássaros cantavam sem parar rodeados em uma área já consumida pelo fogo. O canto da dor, segundo quem já viveu a tristeza de outras tragédias ambientais, era por um provável ninho destruído pelas chamas.
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Por fim, uma casa de cupim agora usada como ‘casulo’ para o fogo teve um fim trágico. Conforme Tatiane, o fogo fica ‘aprisionado’ dentro do cupinzeiro e pode quebrar, reativando o fogo em áreas onde ele já passou ou se espalhando em áreas não queimadas. Com isso, é necessário destruir os cupinzeiros.
Rota de fuga do incêndio
Apesar do vento e do tempo seco remando contra a maré dos Bombeiros, os militares têm a tecnologia a seu favor. Durante o combate, o Cabo Victor Barbosa Lima cobria a área afetada com um drone.
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“O drone nos ajuda a identificar a linha de frente do fogo e com isso a gente consegue traçar uma rota de fuga e estratégia de combate. É possível ter uma visão aérea da área”, explica.
O cabo estava averiguando uma frente bem grande, com muita fumaça. Essa área foi identificada como sendo a frente do foco e a equipe que estava em campo foi avisada remotamente pelo rádio comunicador.
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“Tem que se preparar muito e para isso nós temos especializações dentro do Corpo de Bombeiros. E além dos EPIs e da tecnologia, nós vamos nos adaptando às situações”, continua. “A gente usa protetor solar, protetor labial, muita hidratação… Aqui é um ambiente muito inóspito; clima seco e pesado para respirar. Mas a gente coloca uma balaclava para tampar o rosto e vai combatendo”, finaliza.
Ponto de segurança
A equipe recebeu autorização para ir até certo ponto próximo ao foco do incêndio. Depois dali, apenas os brigadistas, com as roupas e equipamentos certos, poderiam avançar. Entretanto, em determinado momento, o fogo começou a cercar as equipes e o local deixou de se tornar seguro tanto para a reportagem, quanto para a equipe de sete bombeiros. Assim, foi necessário se afastar.
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É necessário agir rápido diante da imprevisibilidade do fogo. “Nós fizemos o combate direto em uma linha de temperatura muito alta. Além disso, um fator que complica é a condição do vento e a fumaça que não traz segurança. Não trouxe segurança nem pra nós, nem pra vocês”, comenta o sargento Élcio Matheus Barbosa, um dos integrantes da equipe.
O vento acaba auxiliando nas mudanças repentinas do trajeto do fogo. Tanto que mais cedo, a equipe iria para uma região mais afastada, conhecida como Porto Maracangalha. Porém, quando todos se preparavam para partir, o monitoramento identificou que o foco naquele local havia mudado de direção por conta justamente do vento.
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Agora estava em uma região sem acesso fácil. Por conta disso, a partir daquele momento seria necessária uma grande operação que levaria pelo menos mais 24h:
- Primeiro pelo ar para resfriar uma área que serviria de passagem para os brigadistas.
- Depois, uma viagem de 1h30 para pelo Rio Paraguai até o Porto Maracangalha.
- Por fim, abrir caminho na vegetação até chegar ao local do fogo.
- Depois do combate, o Corpo de Bombeiros ainda monitora a região por 48h para assegurar que o fogo não voltou.
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“Pra vocês terem noção em São Paulo, Minas Gerais, a cada 20, 30 km que você anda é possível encontrar um núcleo urbano. Na região do Pantanal se anda até 200 km sem sequer encontrar uma rodovia, uma estrada próxima”, explica a tenente-coronel.
Tudo isso carregando sopradores, bombas costais – que resfriam e extinguem incêndios -, enxadas, mangueiras e motobombas. Além disso, carregam motosserras para cortar troncos em queima lenta, assim como no caso dos cupinzeiros. Fora que há lugares onde os barcos não conseguem atracar.
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E o Pantanal tem suas particularidades: para os perigos com o fogo quente, usam balaclavas e para a ameaça selvagem, como cobras, usam caneleiras. Segundo a tenente-coronel, já são 80 dias dessa rotina no Pantanal.
Há ainda uma possibilidade de ampliar a equipe de combatentes com mais de 100 servidores em campo. Isso alinhado ao turbilhão de ocorrências no quartel dos Bombeiros. E a tendência é só piorar.
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“Para 2024, o cenário não é nada favorável. A gente tem toda a bacia do Rio Paraguai baixa; sem previsão de chuva; tendência de uma estiagem mais severa que 2020, que foi um marco para os incêndios florestais”, ressalta Tatiane.
Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) da última sexta-feira (21), Corumbá acumulava 1.771 focos de incêndio em 2024 – 170 apenas nas últimas 24 horas, deixando a cidade como a com mais focos de fogo no Brasil.
População convive com fumaça dos incêndios
O triste cartão-postal para quem chega a Corumbá é o fumaceiro visto de longe por conta dos grandes incêndios florestais no Pantanal. A grande cortina de fumaça é percebida cerca de 75 km da zona urbana e fica pior a cada quilômetro mais perto.
Reportagem do Jornal Midiamax percorreu o trecho de 450 km entre Campo Grande e Corumbá na quinta-feira (20), rumo ao Pantanal sul-mato-grossense. Se para quem chega já é difícil, imagina para quem convive diariamente com o fumaceiro, que toma conta de cidade.
Por conta da situação, que coloca em risco a saúde e o bolso, corumbaenses precisam mudar a própria rotina para se adaptar à fumaça.
Cemitério de animais no Pantanal
O Gretap (Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal) contabilizou durante levantamento na manhã desta quinta-feira (20) centenas de animais mortos por conta dos incêndios que assolam o Pantanal, em Corumbá.
Os especialistas percorreram a Estrada Parque Pantanal até o Porto Manga, segundo a Coordenadora Operacional do Gretap, Paula Helena Santa Rita, para cobrir a área atingida pelo fogo e identificar fauna afetada.