- maio 24, 2017
Na maior cheia em 20 anos, Bonito contabiliza prejuízos ao turismo
Água alcançou passarela de pedra no Balneário Municipal de Bonito (Foto: divulgação)
Os transtornos causados pela maior cheia do Rio Formoso em 20 anos já duram 15 dias em Bonito, a 257 quilômetros de Campo Grande. A chuva acima da média começou a ser registrada no dia 9 de maio e atingiu o ápice no último fim de semana, quando passeios foram interditados e fazendo, juntamente com a influência da baixa temporada, a taxa de ocupação nos hotéis chegar a 20%.
Augusto Barbosa Mariano, secretário municipal de Indústria, Turismo e Comércio, afirma que o problema afeta principalmente atividades de banho, flutuação e contemplação exclusivamente no Formoso, já que existem atrativos em águas de outros rios na cidade, como o da Prata.
O Balneário Municipal, segundo ele, está interditado há uma semana desde que a água alcançou o topo da margem de pedra e avançou sobre o gramado. O local está fechado por motivo de segurança, para evitar que os banhistas escorreguem nas rochas.
Além disso, ainda conforme Mariano, o nível da água já está baixando, mas formaram-se poças que inundam o local. Não há como precisar por quanto tempo a situação no local vai persistir. “A reabertura depende se teremos ou não mais chuvas nos próximos dias. Precisamos de tempo firme e pelo menos três dias de sol para secar tudo”, pontua.
Os prejuízos não foram maiores porque a cidade está em período de baixa temporada, quando o fluxo de turistas cai. “Com relação ao público, claro que perde, pois a chuva atrapalha, mas nada que seja preocupante”, diz o secretário.
Além disso, algumas estradas também foram afetadas, como por exemplo a que liga Bonito a Jardim, principal acesso ao Rio da Prata, Lagoa Misteriosa e Buraco das Araras, onde a chamada Ponte do Curê foi danificada.
“É uma estrada turística, mas também usada pelo agronegócio para escoamento da produção e por alunos de escolas rurais. A água passou por cima da ponte e o município já iniciou a recuperação”, diz o secretário.
No vídeo abaixo é possível ver a inundação em vários pontos da Ilha do Padre, um dos principais atrativos da cidade. A água alcançou os alambrados de madeira.
Segundo ele, a seca intensa registrada no verão fez o nível dos rios baixar demais, afetando, por exemplo, a contemplação em algumas cachoeiras.
“Hoje com essa chuva esses volumes foram recuperados. Associada a isso, a própria enchente causa danos, mas limpa o leito do rio, leva as galhadas e um pouco de lixo que pode ter. Favorece muito o gotejamento das grutas, a criação das colunas e estalactites. As grutas ficam muito mais bonitas”, pontua.
Hospedagem – O presidente da ABH (Associação Bonitense de Hotelaria), Cícero Ramos Peralta, afirma que o nível do Formoso já está baixando, mas nos últimos dias, o setor foi impactado pelos temporais.
“Não é só a cheia que atrapalha, mas muita chuva, independentemente de encher ou não o rio, e baixas temperaturas. O turista que já está na cidade às vezes antecipa seu retorno.Nós estamos sujeitos às condições meteorológicas e o clima para nós é determinante”, pondera.
Segundo ele, o movimento na rede hoteleira, favorecido não apenas pela chuva, mas também pela baixa temporada, caiu 80% nos últimos 20 dias. “O turista, mesmo estando na cidade, é obrigado a ficar no hotel por causa da chuva. Os hotéis normalmente sugerem alternativas, como ir a Ponta Porã fazer compras”, pondera.
Normalidade – A presidente da Abaetur (Associação Bonitense de Agências de Ecoturismo), Adriana Merjan Caminha da Cruz, diz que os impactos no setor de turismo não foram tão grandes, pois a cidade tem mais de 40 atrativos e nem todos são nas águas do Formoso.
“O que afetou mesmo no Formoso foi o passeio de bote. Como parte do sistema de segurança, ele só pode operar com o rio em determinado nível. Hoje a tarde ele já deve voltar a operar, se não chover mais na cabeceira”, afirma.
Segundo ela, Bonito está localizada em uma região de serra, logo não há cheias intensas como as registradas no Pantanal, que por ser plano acumula água por muito tempo. “É como uma grande enxurrada. Aumenta na chuva, depois baixa rápido”, pontua.
Adriana contesta queda no movimento e diz que o fluxo de turistas em maio até o momento está inclusive melhor do que em abril.
“A pessoa que se planejou há muito tempo não vai cancelar o aéreo e acaba aproveitando da mesma maneira. Tem gente que aproveitou o domingo, quando houve chuva e frio juntos, para fazer gruta, day use no Pantanal, passeio na Boca da Onça em Bodoquena”, afirma a presidente da Abaetur.
Impactos – O biólogo Marco de Barros Costacurta explica que as enchentes no Formoso estão ligadas diretamente a alta concentração das chuvas nesse período, tanto no entorno quanto nas cabeceiras.
“Aliado à deposição natural de sedimentos calcários formando as famosas “rifas calcáreas” ao longo do rio, diminuem o seu fluxo e retém também seixos e plantas aquáticas que se deslocam, ampliando assim o efeito de dique e contribuindo assim para o alagamento das áreas adjacentes”, explica.
Segundo ele, os impactos das cheias podem ser amplificados pela ação do homem “ao não se proteger as matas ciliares impedindo a entrada de animais de criação e o solo com curvas de nível”, afirma o especialista.
“Quando isso acontece, as águas que escorrem superficialmente após as chuvas são direcionadas em alta velocidade em direção aos rios levando bastante material do solo causando a formação de erosões”, conclui.