- agosto 8, 2017
Máquina acelera em até cinco vezes o beneficiamento de feijão verde
Uma máquina que quintuplica a produtividade da debulha de feijões ainda verdes deverá auxiliar milhares de agricultores familiares que trabalham com essa cultura no Nordeste brasileiro. O processo manual de separação do grão da casca, conhecido como debulha, quando executado por uma pessoa adulta, rende de quatro a seis quilos por hora. Com a máquina, o pequeno produtor consegue debulhar até 25 quilos de grãos de feijão verde por hora.
Desenvolvido com apoio do Banco do Nordeste pelos pesquisadores César Nogueira, da Embrapa Meio-Norte (PI), e Francisco Freire Filho, Embrapa Amazônia Oriental (PA), o equipamento mede 45 centímetros de comprimento por 43 de altura, pesa 12 quilos e funciona com um motor elétrico de 250 Watts.
“Esse avanço acelera o rendimento da mão de obra e incrementa a renda”, destaca César Nogueira, lembrando que a debulha de 25 quilos de feijão verde por hora é suficiente para atender à demanda de grupos familiares que vendem a produção a restaurantes, supermercados e em feiras.
A produção de feijão verde, majoritariamente da espécie caupi (Vigna unguiculata), no Nordeste brasileiro é manual do plantio ao beneficiamento. Nogueira explica que o processo de debulha é relativamente fácil quando se trata de quantidade para o consumo diário de uma família. “No entanto, quando a atividade visa à comercialização, se torna um trabalho cansativo e com baixo rendimento”, frisa o cientista.
“É importante que os agricultores saibam que a máquina pode ser usada também para debulhar o feijão seco ou maduro, com umidade do grão inferior a 15%”, detalha o pesquisador. Na debulha de feijões ainda verdes, a umidade do grão deve estar entre 35% e 60%. “Mas se a umidade estiver no intervalo de 16% a 35%, há uma tendência de amassar os grãos pelo fato de as vagens e os grãos estarem em estágio plástico”, alerta.
Ponto certo da colheita
Outra orientação dos pesquisadores que deve ser seguida à risca pelos produtores é sobre o momento da colheita. O agricultor que produz feijão verde sabe qual é o ponto ideal. Ele ocorre quando as vagens atingem o volume máximo de desenvolvimento e começam a mudar da cor verde para a roxa ou amarela, dependendo da cultivar.
Nesse momento, os grãos atingem o peso máximo. Ou seja: é o ponto em que os grãos param de crescer, dando início ao processo de desidratação natural. Isso é importante sob o aspecto econômico, porque o grão rende mais e pode ser mais bem trabalhado. Segundo Nogueira, nesse intervalo a umidade pode variar entre 40% e 60%.
Simplicidade
Criada para ser usada em feiras livres, a máquina é simples, de fácil construção e de baixo custo. Se produzida por unidade, em Teresina (PI), seu custo fica em cerca de R$ 800,00, ou mais. Se a produção for em série de pelo menos dez, o preço diminui para R$ 500,00 ou até menos do que isso, de acordo com César Nogueira.
Os pesquisadores levaram dois anos para desenvolver a debulhadora e contaram com investimentos de R$ 15 mil. Para chegar ao projeto definitivo da máquina, os cientistas foram buscar detalhes em um equipamento que debulha ervilha desenvolvido nos Estados Unidos.
Revolução na agricultura familiar
A primeira comunidade agrícola beneficiada com a debulhadora foi a Cooperativa dos Produtores Agropecuários do Portal do Parnaíba (Cooperagro), na zona rural norte de Teresina. Vinte famílias já testam a máquina há cerca de um ano e com ela conseguiram mudar de vida. “Essa debulhadora está sendo uma revolução na agricultura familiar”, exalta Marcos Venicíos Andrade de Araújo, 48 anos, presidente da cooperativa.
Segundo ele, com o uso da máquina, a Cooperagro deu um salto de eficiência no beneficiamento de feijão verde. “O que antes parecia impossível, hoje se tornou uma realidade. Antes, debulhávamos uma média de 30 quilos de feijão por dia. Hoje, com apenas um operador, conseguimos alcançar cerca de 200 quilos por dia”, comemora Araújo.
Além da velocidade no beneficiamento de feijões verdes, que têm vida curta de prateleira, a debulhadora está permitindo que os agricultores façam o plantio de forma escalonada, com irrigação, podendo colher o produto no tempo certo. “Estamos atendendo o mercado consumidor com maior rapidez e precisão”, comemora Araújo.
Cooperado-padrão
Domingos Ferreira Silva, de 50 anos, o Dominguinho, agente de saúde da Prefeitura de Teresina e nas horas vagas agricultor, obteve destaque da produção de feijão verde na Cooperagro. Trabalhando sempre com a cultivar de feijão-caupi BRS Guaribas, desenvolvida pela Embrapa, ele foi o cooperado que mais teve ganho real em 2016 e é o agricultor que mais vem se beneficiando da debulhadora na cooperativa.
Além de faturar mil reais todo mês, Dominguinho obteve seis mil reais de ganho real, no fim do ano passado. Também foi eleito cooperado-padrão pelo desempenho na produção, beneficiamento e comercialização de feijão verde. Sozinho, ele produziu 1,2 tonelada em pouco mais de um hectare. “Foi um esforço grande que fizemos, em horários fora do meu expediente de trabalho na prefeitura, para conseguir essa produção”, explica.
“A debulhadora desenvolvida pela Embrapa é um grande avanço na melhoria de vida da comunidade agrícola do Portal do Parnaíba, ” considera Dominguinho. O cooperado conta que as famílias estão entusiasmadas com a perspectiva de aumentar ainda mais a produção de feijão verde ao longo do ano. “Isso porque aquele trabalho duro de debulhar à mão acabou. É uma evolução”, sentencia.
A Cooperagro, mesmo ainda em construção, conseguiu produzir, beneficiar e comercializar cerca de três toneladas de feijão verde no ano passado, ao preço de doze reais o quilo, faturando quase R$ 40 mil. A cooperativa produz, beneficia e vende também macaxeira, outro produto nordestino de forte apelo culinário em todo o País.
Estratégico e fonte de proteínas
A cultura também tem ganhado força e destaque na produção agrícola das regiões Norte e Centro-Oeste do País. O Mato Grosso é o estado que vem liderando nos últimos anos a produção de feijão-caupi. Em 2015, por exemplo, segundo o Levantamento Sistemático de Produção Agrícola do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram produzidas 230.897 toneladas, numa área colhida de 224.683 mil hectares. De origem africana, o feijão-caupi aportou no Brasil na segunda metade do século XVI, no Estado da Bahia, então centro administrativo do País, pelas mãos dos colonizadores portugueses. De lá, o produto foi levado para os outros estados nordestinos, onde conquistou espaço na agricultura e na mesa dos sertanejos |