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  • agosto 27, 2023

Incluídas pela primeira vez, mulheres surdas se emocionam ao assistir mito guató no Festival de Inverno

Incluídas pela primeira vez, mulheres surdas se emocionam ao assistir mito guató no Festival de Inverno

No palco, as luzes se dividem entre o bailarino que segue o ritmo do canto e da intérprete de Libras que transmite a narrativa do mito. O Palco da Praça da Liberdade abre as cortinas para o espetáculo “Guadakan” de dança contemporânea e orquestra, do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, e arranca sorrisos e brilho nos olhos de quem pode assistir, pela primeira vez, ao festival.

Luzia, Thais, Élida e Lucimara são quatro mulheres surdas que, apesar de morarem em Bonito há anos, apenas agora, na edição do Festival de Inverno de 2023, se sentiram parte do público.

“Foi a primeira vez que senti toda a emoção do teatro. Foi muito especial, gostamos bastante. A comunidade surda achou super bacana e ficamos admirados de como teve toda essa clareza”, conta a estudante Lucimara Gonçalves Silva, de 42 anos.

No palco, a intérprete de Libras Larissa Duragon traduzia não só as palavras como o sentimento trazido pela música que, junto do cenário e da iluminação, ofereciam a experiência única de estar diante de um verdadeiro espetáculo de arte.

“Guadakan” foi concebido a partir de um mito guató, aprendido e ensinado de geração em geração, que o Pantanal tem um “dono” e suas regras.

“No princípio era a simplicidade. Os antigos aprenderam e passaram a ensinar aos seus que tudo tem um dono no Pantanal. Estes seres não são humanos, sobrenaturais ou divinos, que devem ser respeitados e exigem uma conduta ética para que ali todos possam viver em equilíbrio com os recursos por eles fornecidos. Quando se quebram regras, punições serão proferidas”, anuncia a apresentação.

Em cada ato, os bailarinos expressavam o que foi, o que é e, principalmente, o que o Pantanal deixou de ser.

É difícil imaginar como é a experiência de assistir a um festival contando com os outros sentidos, além da audição. Surda, Thaís dos Santos, de 23 anos, tenta nos explicar, e prova o quanto a arte deve ser inclusiva.

“A Libras ajuda a gente a conseguir perceber, nós focamos e por mais que a gente não tenha audição, é igual a um show. O sentimento, a sensação que a gente tem, não precisa ouvir para sentir”, descreve.

A felicidade no rosto das mulheres era tamanha que se mesclava com a emoção de um espetáculo que clama, usando a arte, para falar de natureza. Nascida em Bonito e com 34 anos de idade, Luzia Brand teve a primeira oportunidade de assistir a uma dança com acessibilidade somente na noite desta quinta-feira.

“Antigamente não tinha, agora consigo assistir. É a primeira vez que tem no festival essa acessibilidade”, assegura.

Ponte para que a comunicação chegue a todos, Larissa é a intérprete que trouxe ao palco duas reflexões: o apelo do Pantanal depois dos incêndios que destruíram parte do bioma, e da necessidade de fazer um festival acessível a todos.

“A gente tenta passar essa emoção, precisa sentir primeiro e depois transmitir. Cada pessoa sente a arte de uma forma diferente, mas acredito que todo espetáculo, a partir do momento que você tem o tradutor transmitindo ao mesmo tempo o que está rolando de imagem, as pessoas conseguem ter uma percepção melhor”, resume Larissa.

Paula Maciulevícius, Ascom FIB 2023
Fotos: Marithê do Céu

Confira as fotos:

https://www.festivaldeinvernodebonito.ms.gov.br/danca-guadakan/

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