- julho 2, 2023
Histórias de Aquidauana – Edithe voltou para casa dos sonhos procurando felicidade
Há 30 anos, ela desenhou no papel o lar do qual ficou longe por 19 anos e que ganhou vida desde que voltou
Edithe da Silva Paula, de 77 anos, construiu a casa dos sonhos no Bairro Vila Nasser. Há 30 anos, ela desenhou no papel o que desejava para o lugar onde gostaria de viver com os filhos e o marido, que faleceu há 11 anos.
“Essa casa é grande, é enorme. Eu que desenhei ela, queria que ela ficasse assim porque tínhamos ideia de morar aqui e montar um comercinho, mas aí meu esposo faleceu”, conta.
A casa dos sonhos ficou para trás quando a dona de casa se mudou para Piraputanga, distrito localizado em Aquidauana, a 144 km de Campo Grande. No lugar, ela saía nas ruas onde vendia bolos, pães e outros quitutes feitos na chácara.
Há dois anos, Edithe voltou para a Capital e encontrou uma residência completamente diferente da que deixou. “Ela estava caindo aos pedaços quando cheguei. Acabaram com essa casa e tive que reformar tudo. Só com reforma gastei mais de 40 mil. Aí coloquei essa cor assim”, afirma.
Além da reforma, a moradora também trouxe vida para o lar através do jardim. As flores, plantas e frutas estão presentes desde o portão até a varanda. Onde era mato, Edithe plantou manacá da serra, mandioca, limão, laranja, coco da Bahia, jabuticaba, rosa do deserto, capim-cidreira, cebolinha, banana, guaco e, como diz Edithe, ‘tudo que você imaginar’.
A diversidade de plantas e seus benefícios atraem conhecidos para o lugar. “Quase todo mundo vem procurar remédio homeopático na minha casa. Essa é minha vida”, afirma.
O jardim e o pomar são cuidados diariamente por Edithe, que faz o possível para preservar e deixar tudo em ordem. “Eu acho que nós moramos num lugar que temos que preservar, mas o pessoal não preserva. Quando cheguei aqui, tive que tirar umas árvores enormes que estavam acabando com os fios”, fala.
Próximo ao portão, ela fez uma capela para Nossa Senhora. “Eu tinha vontade de fazer ela porque sou muito devota. Eu mandei fazer tudo aqui”, explica. A estrutura de pedra guarda a estátua da santa que está rodeada de velas. Toda noite, Edithe tem o costume de acender as luzes azuis que destacam a imagem.
Narrando a própria história, a moradora lembra constantemente do marido que era gerente de fazenda. Devido ao trabalho de Hildebrando, a família se mudou para Piraputanga onde ficou por 19 anos. Após perder o companheiro, Edithe seguiu trabalhando até que decidiu vender a propriedade do distrito.
Apesar de estar viúva há mais de uma década, ela segue sentindo falta. Por esse motivo, o retorno para casa em Campo Grande despertou um misto de emoções. “Eu tô feliz né?! Triste porque perdi um grande companheiro, mas tô feliz porque estou no que é meu”, destaca.
Na sala, Edithe tem o porta-retrato do dia em que casou. “Eu tinha 17 anos e ele 26 anos. Foi um casamento bonito”, afirma. Na estante, também há imagens dos pais, netos e outros familiares.
Desde que chegou na cidade, Edithe parou de fazer o que gostava que era preparar os bolos e doces para vender. A vida mais reclusa, segundo ela, é devido ao filho, de 57 anos, que nasceu deficiente e precisa de cuidado constante. “Eu aprendi a fazer tudo quanto é coisa, mas hoje não posso mais trabalhar por causa dele”, comenta.
O cotidiano de Edithe no fim se resume aos cuidados que dedica ao filho, a casa, o jardim e o pomar. Há 30 anos quando desenhou a casa no papel, ela sonhava com felicidade.
O desejo dela segue sendo o mesmo até hoje. “Eu pensava em ser feliz nela, mas não tive o gosto de morar. Agora que estou tendo o gosto”, pontua.
Fonte: https://www.campograndenews.com.br/