- agosto 16, 2022
Mapeamento aponta áreas e períodos mais suscetíveis à ocorrência da drosófila-da-asa-manchada no Brasil
A drosófilla-da-asa-manchada é uma praga exótica identificada no Brasil em 2013. Ela atinge diversos cultivos, em especial pomares de pequenas frutas, podendo gerar perdas de até 100% da produção
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Estudos da Embrapa mapearam municípios em todo o País com condições mais favoráveis ao desenvolvimento da drosófila-da-asa-manchada (DAM), praga que ataca pomares de frutas pequenas e pode gerar perdas de até 100% da produção. Identificada no Brasil em 2013, ela afeta principalmente plantações de ameixa, amora, caqui, citros (laranja, limão e tangerina), figo, morango, nectarina, pera, pêssego e uva. As pesquisas, que fazem parte do Projeto DefesaInsetos e envolvem três Unidades da Embrapa: Meio Ambiente (SP), Territorial (SP) e Semiárido (PE), têm ainda como objetivo detectar potenciais agentes de controle biológico e minimizar o impacto ambiental do uso de produtos químicos contra o inseto.
Os estudos apontaram que o mês de novembro é o que apresenta o maior número de municípios com condições favoráveis ao desenvolvimento da drosófila-da-asa-manchada: 2.288, no total. Em contrapartida, junho é o que tem o menor número: 884 municípios. A área mais suscetível está na região Sudeste, onde a presença de pomares e as condições de temperatura e umidade favorecem o desenvolvimento do inseto durante todo o ano. Na região Sul, a favorabilidade predomina de outubro a abril, enquanto no Nordeste a aptidão prevalece de maio a outubro, com pico em julho. Na região Centro-Oeste, as quatro unidades da federação têm condições favoráveis entre dezembro e junho. O período mais curto é o da região Norte, de junho a agosto.
Os períodos de inaptidão ao desenvolvimento da DAM também foram sinalizados pelos zoneamentos mensais realizados pela equipe da Embrapa. Para tanto, foram analisados dados de produção agropecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de forma a identificar os municípios em que há produção das principais plantas frutíferas hospedeiras. Outra fonte utilizada foi o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). O analista da Embrapa Territorial Rafael Mingoti destaca que, ao revelar as áreas e períodos em que o inseto tem condições ótimas para o desenvolvimento, o trabalho aponta quais locais e momentos exigem mais atenção para evitar prejuízos.
Controle biológico: vespas parasitoides são promissoras contra a praga
Para tentar reduzir esses prejuízos, os produtores geralmente lançam mão do controle químico. Por isso, uma das prioridades da pesquisa agropecuária é buscar alternativas e formas de uso mais adequado desses produtos, além de disseminar conhecimentos que favoreçam o uso bem-sucedido do controle biológico.
A equipe de pesquisa da Embrapa tem buscado informações sobre diversos inimigos naturais – fungos, bactérias, vírus, nematoides, predadores e parasitoides – que possam atuar como agentes de controle biológico da drosófila-da-asa-manchada. Na avaliação da pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Jeanne Prado, responsável pela prospecção desses bioagentes de controle, “estudos que aprofundem o conhecimento sobre a praga e as estratégias de controle são sempre necessários, pois abrem um leque de opções nacionais ao controle do inseto”. Trabalhos baseados em informações técnico-científicas nacionais e internacionais sobre a drosófila-da-asa-manchada e seus inimigos naturais favorecem a prospecção por bioagentes de controle, antes mesmo que sejam realizados estudos laboratoriais ou de campo, complementa.
“Buscamos informações sobre inimigos naturais que já se apresentaram no exterior como importantes estratégias de controle e identificamos aqueles já presentes no nosso território ou que possuam habilidades para adaptação e possível sucesso no controle da praga. Ao ser integrada ao manejo em cultivos agrícolas, a estratégia pode auxiliar na redução do uso de produtos químicos”, detalha Prado. A análise mais aprofundada da literatura técnico-científica resultou na priorização de duas vespas como mais viáveis para uso em condições nacionais.
Os cientistas fizeram, então, um segundo mapeamento, para avaliar se as áreas de maior atenção para a proliferação da praga também apresentariam boas condições ao desenvolvimento de uma dessas vespas parasitas, a Ganaspis brasiliensis. O estudo apontou que ela possui aptidão para uso em todas as áreas indicadas como favoráveis também à drosófila-da-asa-manchada, o que permitiria o uso desse recurso biológico.
A partir dos resultados desse segundo zoneamento, estudos sobre a Ganaspis brasilienses foram aprofundados com base em informações sobre populações chinesas e coreanas do parasitoide, que já vêm sendo utilizadas no exterior. Entre os vários municípios identificados como aptos tanto ao desenvolvimento da drosófila-da-asa-manchada quanto da vespa, cinco foram priorizados para a realização de estimativas dos tempos de desenvolvimento e das quantidades de gerações anuais, tanto da praga quanto de cada uma das populações do parasitoide: Bento Gonçalves, RS; Morro do Chapéu, BA; Oiapoque, AP; Petrolina, PE e Vacaria, RS.
Essas estimativas consideraram as necessidades mínimas de energia, adquirida pelos insetos, com base na temperatura de cada local, para que eles sobrevivam e consigam passar por todas as suas fases de vida, gerando descendentes, isoladamente por município avaliado. Por essa razão, também demandaram informações de temperaturas médias máxima e mínima mensais, obtidas a partir das informações disponibilizadas pelo INMET. Os resultados apresentaram os tempos de desenvolvimento da fase imatura e o número de gerações da praga e do parasitoide (para cada população) em cada município, como também em diferentes períodos de safra de framboesa, em Bento Gonçalves, RS, e de morango, em Morro do Chapéu, BA.
Saiba mais sobre os bioagentes priorizados pela pesquisaA aplicação de produtos químicos ainda é a principal estratégia utilizada para o controle de D. suzukii. No entanto, aplicações constantes elevam o custo de produção, prejudicam a ação dos inimigos naturais no campo, levam ao desenvolvimento de populações resistentes da praga e podem causar efeitos indesejáveis em populações de polinizadores (abelhas). O controle biológico de pragas e doenças de plantas é o método de controle que mais cresce no Brasil por aliar sustentabilidade à produção agrícola. Os pesquisadores identificaram bioagentes eficazes como entomopatógenos (capazes de matar ou impedir a reprodução de insetos), predadores e parasitoides para o controle da D. suzukii. Duas vespas parasitoides foram priorizadas como mais viáveis para uso em condições nacionais: o parasitoide larval Ganaspis sp. e o parasitoide pupal Trichopria anastrephae, que se destacaram como alternativas para o manejo da praga no Brasil. Uma dessas vespas, Ganaspis brasiliensis, é um parasitoide da fase larval da drosófila-da-asa-manchada. O estudo indicou que as duas populações desse parasitoide, mais adequadas ao ambiente nacional, possuem aptidão para uso em todas as áreas ótimas indicadas como favoráveis também à DAM pelos zoneamentos. Desse modo, Ganaspis brasiliensis, parasitoide larval de D. suzukii, destaca-se como bioagente promissor, pois, além de ter apresentado alto potencial para controle de DAM em países asiáticos, tem o gênero Ganaspis sp., já presente no Brasil. |