- outubro 10, 2017
Yolande deixou a França por amor e terminou a vida como Francesa dos Cachorros
Yolande Stoeltzlen era do tipo intensa, capaz de encarar qualquer desafio pela felicidade. Foi assim que ela teve coragem de deixar a França em 1975 para transformar a vida com a família no Brasil. Mas há 14 anos, os filhos, amigos e a comunidade se despediram da mulher bem sucedida, rica, mas que fez de tudo para salvar animais abandonados. A força ficou memória de quem por muito tempo viu a “Francesa dos Cachorros”, como era conhecida, perambulando em busca de resgatar um animal.
Quem lembra com detalhes todas as peripécias dela é a filha, pedagoda e jornalista, Athena Stoeltzlen Kefalinos, de 43 anos. Para ela, o que ficou de quem partiu foram traços de humanidade, capazes de emocionar toda vez que o passado da mãe é mencionado.
Mas é também com orgulho que ela conta o que sabe.
Yolande chegou ao Brasil na presença do marido que era grego. À época outros estrangeiros chegaram em busca de uma vida melhor. Mas Yolande era uma empresária, dona de restaurantes e cafés na França e que acabou fortalecendo os negócios por aqui. “Tinha restaurante, meu era dono de cavalos no Joquéi Club e meu passaporte já era carimbado desde pequenininha. Mas ela nunca deixou de ser uma pessoa humilde apesar do conforto que tinha”.
Sempre apaixonada por animais, resgatava o que via pela frente por não entender como as pessoas eram capazes de tanto sofrimento. “Era uma amor incondicional. Ela dizia que na França os animais entravam no metro e na maioria dos estabelecimentos. Mas não entendia porque aqui no Brasil os cães eram tão maltratados”.
Mas sua dedicação no resgate de animais só aumentou quando Yolande enfrentou o primeiro baque em sua vida no Brasil quando a filha tinha 15 anos de idade. “O casamento dela chegou ao fim. A separação foi muito dolorosa porque ela o amava muito. E na verdade morreu amando”.
Yolande deixou de trabalhar para ficar em casa cuidando da filha e dos animais. Para cessar com a tristeza ela andava nas ruas a procura de cuidar dos cães e gatos do bairro. Ganhou apelido de Francesa dos cachorros por que chegou a 15 dentro de casa. “Ela também teve 30 gatos. Todo mundo que não queria um animal deixava largado na porta dela”.
Até que um dia Yolande ficou de coração partido ao ver o sofrimento de um cavalo abandonado no terreno baldio próximo a residência. “Era de um carroceiro que disse que o animal não prestava mais. Ele estava tão magrinho que minha mãe adotou ele”.
Durante o dia o cavalo pastava em um terreno e a noite Yolande o deixava no quintal de casa. “Ela ia pelo menos quatro vezes ao dia levar balde de água para ele. Quando ela estava chegando o cavalo relinchava e todo mundo sabia que era a Francesa”.
Tinha gente que achava maluquice, mas Yolande chamava de amor. “Era a felicidade dela cuidar dos bichos. O cavalo ficou com a gente cinco anos graças aos cuidados dela. Até que ele caiu em um dia chuvoso e morreu”.
Além de adotar, ela também ajudava no parto de alguns animais da rua. “Quando alguma fêmea estava parindo, ela ajudava e cuidada dos filhotes. Todo mundo chamava ela porque confiava”.
Mas em janeiro de 2000, Yolande recebeu um diagnóstico: câncer no pulmão em estágio avançado. A filha acredita que faltou sensibilidade médica na hora de dar a notícia e mais uma vez a dor tomou conta de mãe, que por sorte, contou com apoio de Athena em cada minuto de tratamento.
“Imagina só, ela não tinha um parente no Brasil e o médico simplesmente disse que ela só viveria 6 meses. Mas eu falei que não e ela esteve comigo durante dois anos com câncer”, recorda a filha quando deixou a mãe no hospital para ir em casa e ao chegar recebeu a notícia que Yolande havia partido. “Eu fiquei em choque e passou um filme na minha cabeça porque não consegui realizar o seu maior sonho”.
Yolande queria ter descansado em Paris, mas não houve tempo. Athena queria que ela pegasse o neto nos braços, mas já era tarde. “Eram sonhos meu e dela, mas infelizmente não deu tempo de nada. Por isso eu sinto tanta falta e ainda sonho em voltar a França, pensando nela, sentindo o perfume que até hoje eu sinto na sala”, descreve.