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  • setembro 4, 2017

3ª Etapa da Expedição Centenária Roosevelt-Rondon (Parte II)

Esse caboclo, peregrino por patriotismo, viajante por ideal, desbravador por destino, apaixonado por ofício, pioneiro por temperamento, incansável por dever, estóico por profissão, soldado da paz, a serviço das fronteiras que ajudou a demarcar e do Sertão, que ajudou a revelar, na mais nobre das conquistas e na mais santa das vitórias, Rondon é glória que reúne os mais altos méritos militares aos mais altos méritos civis. (Benjamim Costallat)

Porto Murtinho é uma cidade por demais pacata e agradável. Uma sadia miscigenação gerou um cadinho de finas especiarias dentre as quais as que mais se destacam são a simpatia e a educação de seus ordeiros habitantes. O site da Prefeitura nos informa:

Estrategicamente localizado na fronteira com o Paraguai, Porto Murtinho foi criado em 1911 e emancipado em 13 de junho de 1912, tendo como cenário principal, a exuberância do Rio Paraguai. Com mais de 100 anos, o município se destaca por ter sido palco de uma série de acontecimentos marcantes na história do nosso País, como a Guerra da Tríplice Aliança e a Revolução de Getúlio Vargas de 1932. Foi também um dos municípios mais importantes para o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, pois, devido ao Porto de exportações, passou por ciclos econômicos importantes que à época impulsionaram a economia do Estado. As construções arquitetônicas e monumentos históricos espalhados por toda a cidade são verdadeiros museus a céu aberto e se tornaram um dos principais atrativos turísticos. Uma volta pela cidade expõe a riqueza vivida pela população no auge dos ciclos erva-mate, tanino e charque. Outro fator marcante é a cultura murtinhense, que se destaca por agregar os usos e costumes do país vizinho Paraguai, preservados com orgulho pela população que carrega em suas raízes o talento para a música, a dança, o teatro e também a culinária revelando atrações que enaltecem e valorizam as tradições do povo murtinhense. (www.portomurtinho.ms.gov.br)

12.12.1913 – Porto Murtinho (Roosevelt)

Pela tarde, logo após o nascer da lua, paramos para receber lenha em Porto Murtinho, pequena cidade brasileira, onde vivem cerca de 1.200 habitantes. Alguns edifícios eram de alvenaria; uma grande morada particular, com uma torre acastelada, era de pedra; havia casa de comércio e correio, depósitos, um restaurante, salão de bilhares e armazém para o mate, que em grande vulto é produzido na região adjacente. Na maior parte as casas eram baixas, com telhados inclinados em rampa, e havia jardins com altos muros, em cujo interior se viam árvores, muitas das quais olorosas. Vagueamos em ruas largas e cheias de pó, caminhando em seus estreitos passeios. Era um anoitecer cálido e o cheiro dos trópicos impregnava o ar abafadiço de dezembro. Pelas portas e janelas abertas avistamos vagamente os moradores seminus das casas mais pobres; mulheres e meninas ficavam sentadas fora de suas portas, ao luar. (ROOSEVELT)

06.08.2017

Passamos toda manhã envolvidos na transposição do material individual da Kemosabe para a Calypso. Partimos à tarde rumo Norte, deixando para trás a Isla Margarita e Puerto Carmelo Peralta, aproados na direção do Morro Pão de Açúcar (21°26’45,68”S / 57°52’33,48”O), de mais de 500 metros de altitude, localizado na Fazenda Porto Conceição, a quase 30 km ao Norte de Porto Murtinho. A região pródiga em belezas naturais possui uma trilha que leva até o cume do morro de onde se tem uma vista privilegiada do Pantanal. Passamos ao largo do Monte Pão de açúcar ao anoitecer (19h15).

O atraso, provocado pela troca de embarcações, forçou a tripulação a navegar à noite e não tivemos a oportunidade de conhecer o Fuerte Olympo (antigo Fuerte de Borbón – 21°02’11,91”S / 57°52’10,75”O). Reporta-nos Roosevelt:

13.12.1913 – Porto Murtinho (Roosevelt)

Pela manhã, muito cedo, paramos em um lugarejo paraguaio, aninhado entre o arvoredo verdejante, no sopé de um grupo de morros baixos, junto à margem do rio. Sobre um dos morros aparecia um pitoresco forte antigo, de pedras, conhecido como Forte Bourbon, nos tempos coloniais da Espanha. Agora flutua sobre ele a bandeira paraguaia e é guarnecido por um punhado de soldados paraguaios. Aí o padre Zahm batizou os dois filhos mais novos de uma vasta família de gente pequena, de pele fina e cabelos louros, cujo pai era paraguaio e a mãe “oriental” ou uruguaia. (ROOSEVELT)

Reporta-nos María Teresa Gaona (www.icomos-ciic.org):

Fundación del Fuerte de Borbón

El Gobernador Alós y Bru nombró, el 27 de noviembre de 1791, al Teniente Coronel José Antonio Zavala y Delgadillo Superintendente y Comandante en Jefe del Regimiento de Dragones del Paraguay, quien estuvo al mando de la expedición y y tuvo a su cargo la construcción de los nuevos establecimientos de defensa de la Banda Occidental del Río Paraguay. La expedición remontó el Río primeramente hasta los 19°58’, pero por dificultades del terreno se eligió sitio en el punto denominado “Tres Hermanos”, pequeños cerros que se consideraron inmune a las crecidas del Río. El 25 de setiembre de 1792, terminan las obras de construcción y tiene lugar la fundación del Fuerte de Borbón, ubicado a los 21°01’39’’ de Latitud Sur, un poco abajo del Río Blanco. Zavala y Delgadillo designa a José de Isasi como primer Comandante del Fuerte. La aprobación real de esta fundación fue el 27 de febrero de 1793.

Aspectos históricos y noticias sobre el Fuerte de Borbón

[…] A partir del 25 de diciembre de 1823, el Dr. Francia denomina Fuerte Olimpo al Fuerte de Borbón, a efectos de demostrar claramente la independencia de España. […]

Descripción del Fuerte de Borbón

[…] La fortaleza está formada por un cuadrilátero de modesta arquitectura y poca elevación, cuyos ángulos se hallan defendidos por un bastión semicircular con varias troneras y su correspondiente garita. Llama la atención la presencia de sólo tres bastiones o garitas en las que están emplazados los cañones. Dentro del trazado rectangular existían diversas chozas internas para habitación del Comandante, Cuartel, Almacenes, Cocinas, Baños, Guardias y Prisiones. […]

En fecha 23 de setiembre de 1817 el Dr. Francia ordena la refacción de los cuarteles y quinchados de ese presidio, pues si los portugueses fortificaban Coimbra “yo también”, dice el Dr. Francia me atrevo a fortificar Borbón con el auxilio de la cal, con buenas murallas y baluarte ya que en el cerro hay piedras en abundancia. Con esta decisión, el Fuerte deja de tener como nuralla, estacada de palmas, material precario, en la primera etapa, para construirse con piedras y cal como cemento, pero sin cambiar el diseño original. Se reparan. Además, el techo de las cuadras y otras dependencias. Reparaciones que llegan a su término en 1818, según una comunicación del entonces Comandante de Concepción al Dictador.

En 1823, el Dr. Francia vuelve a enviar albañiles, ladrillos y cal para realizar mejoras en el Fuerte. […] En la Plaza de Armas de la fortaleza existía grabada una piedra granítica que dice: “Restablecióse este Fuerte Olimpo, el 31 de agosto de 1856 bajo el comando de los ciudadanos Marcelino Antonio Coronel y José Manuel Gimenez”. (GAONA)

07.08.2017

Passamos por à tarde pelo Puerto Mihanovich (20°48’04,41”S/57°57’08,45”O):

O Porto leva o nome de Nicolás Mihanovich, armador austro-húngaro com sediado em Buenos Aires, que no final do século XIX tornou-se o maior armador da América do Sul e é considerado um dos principais propulsores da indústria de taninos, um dos principais insumos utilizados na indústria de curtumes.

Mihanovich, em 1905, fundou a empresa “Campos y Quebrachales Puerto Sauce S.A.” con un capital de 3.000.000 de pesos instalando sua primeira fábrica e embarcadouro em Puerto Sauce. Sempre voltado para a produção de curtumes e taninos, instalou outras fábricas, nos anos subsequentes, nas proximidades e margens do Rio Paraguai: Puerto Guaraní, Puerto Pinasco, Puerto Maria e Puerto Mihanovich. Mais tarde as instalações de Puerto Maria e Puerto Mihanovich foram abandonadas e a produção dirigida para Puerto Sauce.

E à tarde por Puerto Leda (20°36’48,10”S / 58°00’59,27”O), um dos muitos redutos da seita fundada pelo coreano Yong Myung Moon, que adotou o nome de Sun Myung Moon. O escritor Jesus Hortal Sánchez na obra “E Haverá um só Rebanho: História, Doutrina e Prática Católica do Ecumenismo”:

39. Um caso à parte:

A “Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial” (“Moonismo”). A rigor, não se pode incluir este grupo entre os de caráter neobudista. Ao contrário, para os moonistas, o mal é tão real que acaba por converter-se numa espécie de segundo princípio, rival de Deus. A Associação foi fundada pelo coreano Yong Myung Moon, que desde 1946 adotou o nome de Sun Myung Moon, quase numa pretensão de dimensões cósmicas (no inglês, sun significa sol, e moon, lua). Educado no presbiterianismo e tendo passado depois para o pentecostalismo, Moon dedicou-se, a partir de 1950, a pregar um novo messianismo, que concretizou, quatro anos mais tarde, na fundação de sua “Igreja”. Ele se apresenta como o novo Messias, vindo para completar a obra “fracassada” de Cristo. Segundo Moon, Adão e Eva cometeram o pecado de natureza sexual, pelo que corromperam a humanidade. Cristo, enviado para reparar o pecado, fundando uma família perfeita, deveria ter casado, mas não chegou a realizar essa tarefa porque fracassou e foi crucificado. Por isso, o próprio Moon estaria incumbido dessa tarefa de fundação da família perfeita. Para isso, casou-se, em 1960, com uma jovem estudante, embora já tivesse convivido anteriormente com outras quatro mulheres, durante diversos períodos. Moon e sua esposa seriam assim os “verdadeiros pais”, iniciadores da família perfeita que irá inaugurar o Reino de Deus.

Os ensinamentos de Moon encontram-se reunidos basicamente no livro O Princípio Divino, considerado pelos moonistas como superior à própria Bíblia. Esse livro apresenta uma série de curiosas coincidências com a doutrina da segurança nacional, como a bipolarização mundial entre comunismo e democracia, e o conceito de guerra permanente, revolucionária e psicológica. Conforme Moon, a história terminará com o triunfo definitivo da democracia sobre o comunismo e a reunificação da Coréia, que se transformará na nova terra prometida.

A Associação ou “Igreja” da Unificação estende-se por meio de uma série de associações paralelas, a mais importante das quais é a CAUSA, que poderia ser qualificada como o braço político do moonismo, no seu anticomunismo militante e ultraconservador. Outras associações ou organismos promovidos por Moon são a World Media Association (WMA), a International Cultural Foundation (ICF), a International Religious Foundation (IRF), a nova Ecumenical Research Association (ERA), o Council for the World’s Religions (CWR), a Assembly of the World’s Religions e o Religious Youth Service (RYS). Sob fachadas diferentes, estes organismos atuam na propaganda do moonismo, dando-lhe uma aparência de modernidade e cientificismo. Cursos, seminários e palestras promovidos desse modo nem sempre mostram claramente sua ligação com o “unificacionismo”.

Os moonistas são muito ativos no recrutamento de novos adeptos. Durante bastante tempo, promoveram cursos intensivos de doutrinação, de sete, vinte ou cem dias, com horários extremamente rígidos e métodos de pressão psicológica bastante discutíveis, dirigidos a criar uma dependência afetiva em relação aos “verdadeiros pais” – Moon e sua mulher.

Ultimamente, porém, parecem ter mudado a tática, voltando-se mais para atividades aparentemente culturais, por meio das já citadas associações paralelas, a fim de evitar as acusações de “lavagem cerebral” que lhes eram feitas. Assim, parece que perderam agressividade e velocidade de expansão.

Os membros da Igreja da Unificação devem dedicar o seu trabalho pessoal em benefício da própria Igreja, quer como mendicantes, quer como operários nas fábricas ou empreendimentos industriais [barcos pesqueiros, jornais etc.] que ela possui, quer como vendedores dos produtos fabricados. Daí que as somas acumuladas e administradas por Moon sejam bastante elevadas. Isso lhe proporcionou sérias dificuldades com as autoridades fiscais de diversos países, sobretudo nos Estados Unidos, onde foi preso e condenado a dezoito meses de prisão, dos quais cumpriu efetivamente doze, por sonegação de impostos.

O moonismo se afasta do cristianismo em pontos fundamentais, como a autoridade das Sagradas Escrituras, a doutrina da Santíssima Trindade, a do pecado original, a da divindade de Cristo e do seu papel redentor etc. Não pratica nem o batismo nem a Eucaristia. A sua escatologia parece ser de caráter intramundano, no que se aproximaria dos movimentos de inspiração neobudista. Por isso, não podemos considerar a “Igreja da Unificação” como um grupo cristão, não obstante as referências que faz constantemente a Cristo. (SÁNCHEZ)

 

Vídeo da 3ª Fase da Expedição Centenária Roosevelt Rondon – 1ª Parte:

 

Fontes:

GAONA, María Teresa. El Fuerte de Borbón – Comité Internacional de Itinerarios Culturales, www.icomos-ciic.org.

ROOSEVELT, Theodore. Através do Sertão do Brasil ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ Companhia Editora Nacional, 1944.

SÁNCHEZ, Jesus Hortal. E Haverá um só Rebanho: História, Doutrina e Prática Católica do Ecumenismo -Brasil – São Paulo – Edições Loyola, 1989.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com;

Blog: desafiandooriomar.blogspot.com.br

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